12/09/2005

estranho não haver na arca papéis

com outra letra além da dela. procuro mais para o fundo. uma carta só. decido não a abrir ainda. está chamuscada como se tivesse sido salva de uma fogueira, de um incêndio.
tropeço numa caixa de papelão. abro-a com avidez. estou a tornar-me igual aos arqueólogos, que vasculham corpos enterrados, como se fossem pedras de calçada.

Maria era uma jovem. que a fez desaparecer deixando de si meia dúzia de escritos magoados?

abro a caixa sobre a mesa e só me ocorre uma frase: "são rosas , senhor".

numa caixa vulgar, pétalas secas de rosas que para ela tiveram, por certo, mais valor que o que lhe fora escrito. ou não?


outra curta mensagem:

tinhas razão, amor. ainda que te tenha pedido aos deuses desde sempre, cheguei tarde à alegria de te poder amar. quisera ter nascido no dia em que nasceste e a teu lado.

em criança escrevi dois versos que ainda não entendo:

"eu não nasci aqui
o meu destino é outro."

qual é o meu destino? se não fores tu, então a morte em breve. já nada de relevante hei-de perder.

excepto um filho, talvez.. eu sempre quis um filho. mas sem ti?

Sheryl Maree Reily

que irritante sentir me invade hoje? romantismo piegas ou antevisão de coro de tragédia?

melhor é ir estudar, ou ela vai dizer que é culpa do teatro e lá se vai a pouca liberdade que me sobra.

9 Comentários:

Blogger Lmatta disse...

Olá
Está lindo
Beijinhos

dezembro 09, 2005 2:33 da tarde  
Blogger Manel do Montado disse...

São esses momentos de introspecção e dúvida que nos fazem evoluir par um estádio diferente (superior) de percepção da realidade.
Penso que um existencialismo negativo não se te aplica e muito menos a derrota do que ainda está para vir. Quem tem consciência do seu sofrimento está a assumir a sua superação.
Tenho uma teoria, aliás teorema, que comprova a possibilidade da segunda chance.
Se reparares as avós e os avôs são muito mais permissivos com os netos do que com os filhos e tal, na minha opinião, não se deve nem à idade nem à paciência, antes a um mecanismo de compensação e de correcção dos erros cometidos com os filhos.
A tal segunda oportunidade para amar de novo os filhos através dos netos é dos fenómenos mais belos de observar nas relações humanas.
Um beijo de Bom FDS.

dezembro 09, 2005 5:10 da tarde  
Blogger lique disse...

Temos por vezes essa noção de que algo ou alguém é o nosso destino. Mas será que isso existe? Será mesmo? :)
Beijinhos, M.

dezembro 09, 2005 11:34 da tarde  
Blogger batista filho disse...

... esses escritos são fortes...

dezembro 10, 2005 1:31 da manhã  
Blogger LUIS MILHANO (Lumife) disse...

Se procurares bem muito mais recordações encontrarás nesse rico baú.

Minha Amiga o "Beja" vai parar por um tempo. Voltarei certamente e aqui sempre irei passando.

Boas Festas para ti e tua Família.

Beijos.

dezembro 10, 2005 11:32 da manhã  
Blogger paper life disse...

Obrigada Lumife. Boas Festas para ti e para os teus. Volta breve.

Bjs

dezembro 10, 2005 1:55 da tarde  
Blogger M.P. disse...

BOM fim de semana!! O teu texto deste "post" é melancólico ... Espero que esteja tudo bem contigo!Beijito

dezembro 10, 2005 3:46 da tarde  
Blogger paper life disse...

MP, não confundas a personagem com a narradora. :) Beijos e obrigada. Comigo está tudo bem.

Tudo de bom para ti.

dezembro 10, 2005 3:53 da tarde  
Blogger aDesenhar disse...

um baú cheio de belos escritos.
cada um é uma agradável surpresa.

;)

bjks


esquisso:Só para te dizer que o post já está no ar! :)

dezembro 10, 2005 7:56 da tarde  

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