12/20/2005

Epílogo - A Harpa

Anna Padalis


Olha Senhor o indigno cantor que tu fadaste
e se não sabe erguer à sua própria altura.
Virgem das minhas mãos a harpa acende
novos brilhos no sol, traduz em côr
a saudade dos sons que não desprende.

Tu a fizeste, Deus, para os meus dedos
A glória do teu gesto criador tu a quiseste
partilhar na glória quase igual de o entender.

E foi com teu amor que retesaste as cordas
com teu amor as afinaste e me chamaste
à tarefa sublime de tangê-las.

E eu sinto o frémito, Senhor, sinto o sopro
que tu me inoculaste ao dar-me a tua benção.
Dento de mim é som o eco longo
de uma nota sem fim e sem começo.

Mas só cá dentro o frémito ressoa
que não consegue a minha mão que o lodo fez
e o lodo maculou, passar à harpa a Grande Vibração.

Vem lavar-me, Senhor, no azul do mar
filtra a minha impureza na limpidez
do teu olhar, a luz clara que entornas
pelos montes da minha serra verde.

Deixa outro cantar meu póprio canto.
E seja eu somente assim purificado
e liberto de mim, enfim mais uma corda
na harpa que me tinhas destinado.

Ai o cantor indigno que fadaste!
Ai que a grande vibração, se o não redimes
estéril morrerá!

Que eu seja apenas som que um outro cante
E na renúncia de mim, igual a mim
Um dia me alevante.

harpa Rikki Bunder

Poema A Harpa de Sebastião da Gama.

(citado de memória).

---------------------------------------

Fim da primeira história de papel.

1 Comentários:

Blogger L disse...

Uma história com fim aberto?

dezembro 21, 2005 8:09 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home

Isto Não É Um Diário.

----------