Epílogo - A Harpa
Olha Senhor o indigno cantor que tu fadaste
e se não sabe erguer à sua própria altura.
Virgem das minhas mãos a harpa acende
novos brilhos no sol, traduz em côr
a saudade dos sons que não desprende.
Tu a fizeste, Deus, para os meus dedos
A glória do teu gesto criador tu a quiseste
partilhar na glória quase igual de o entender.
E foi com teu amor que retesaste as cordas
com teu amor as afinaste e me chamaste
à tarefa sublime de tangê-las.
E eu sinto o frémito, Senhor, sinto o sopro
que tu me inoculaste ao dar-me a tua benção.
Dento de mim é som o eco longo
de uma nota sem fim e sem começo.
Mas só cá dentro o frémito ressoa
que não consegue a minha mão que o lodo fez
e o lodo maculou, passar à harpa a Grande Vibração.
Vem lavar-me, Senhor, no azul do mar
filtra a minha impureza na limpidez
do teu olhar, a luz clara que entornas
pelos montes da minha serra verde.
Deixa outro cantar meu póprio canto.
E seja eu somente assim purificado
e liberto de mim, enfim mais uma corda
na harpa que me tinhas destinado.
Ai o cantor indigno que fadaste!
Ai que a grande vibração, se o não redimes
estéril morrerá!
Que eu seja apenas som que um outro cante
E na renúncia de mim, igual a mim
Um dia me alevante.
Poema A Harpa de Sebastião da Gama.
(citado de memória).
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Fim da primeira história de papel.
1 Comentários:
Uma história com fim aberto?
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