RSK photographynão sou dada a ciúmes patetas, mas o que sabia de Maria até hoje viera de uma amiga comum. nem um sinal directo, uma palavra, uma carta. à preocupação natural juntava-se a mágoa pelo silêncio.
até hoje, dizia. até um homem novo me trazer uma chave vulgar, embrulhada em papel vegetal. tão sem jeito, tão à maneira dela, só com o meu nome escrito até quase rasgar a folha tranparente.
- foi uma senhora que mandou entregar, pediu que lhe fizesse o combinado se ela não voltasse e que lá fosse agora para escolher o que tinha de ser.
- mais nada?
- não. decorei bem. foi assim mesmo que ela disse.
- estava triste?
- não a conheço bem. só moro lá na rua, mas a mim sorriu ela e, foi-se embora. deu-me uns trocos... dava sempre... e cigarros também. vivo só da pensão da...
deixei de ouvir. agarrei o embrulho com afecto e fechei a porta para a abrir de novo e meter-me no carro em direcção à rua estreita. tremia. sem entender porquê.
que fez ela ao passado? deitou tudo para o lixo? raio de mulher!
- o passado? "o passado quando não está bem passado leva-se ao forno outra vez", dizia a Manuela.
era assim que diria e parece que a oiço. ela atirou-o fora e passou por uma qualquer porta estreita para outro lado. vá eu lá saber qual...
tenho saudades das conversas com ela até madrugar e ser o sono a empurrar-me porta fora, não a vontade de sair.
isso no tempo em que falava muito e era bom ouvir. depois calou-se. como se tivesse decidido não ter mais nada para dizer.
mentira. tinha pois. tinha era raiva pelo que lhe fizeram mas estava cansada desse falar a que chamava "carpir". não era de ter pena de si própria.
merda, estou para aqui a falar dela no passado e ela está viva ainda. tem de estar!

Rock Kauser
terá ido a Marrocos? ela adorava e dizia que tinha de voltar a ser árabe nem que fosse só mais uma vez. a sua máscara árabe. mulher de máscaras muitas.
mas porque mandaria o homem? bastava telefonar...
bem, cheguei. alguma resposta hei-de ter hoje.