2/28/2006

ANIVERSÁRIO

dkdix
Fiança

A borboleta não sabe
Da suas asas, nem lembra da forma
Do seu passado.
A borboleta é
Uma sensação,
Um lembrete da primavera
Que já passou.


Fausto Wolff


À Lique para que viva em eterna primavera. PARABÉNS, Menina!

intervalo (muito breve, por acontecimento a ver já)

Itzhak Ben Arieh

- que luxo, zack, pequeno almoço pronto

casadasquintas


estás o perfeito animal de companhia.

- começa cedo a ironizar...

- desculpe-me p.p., obrigada. não precisava mesmo, como muito pouco pela manhã...

- pp?

- diminutivo de pe pedro, soa bem, não soa? ou ofende-o?

- de todo. já comecei a conhecer-lhe o estilo,você nunca quer ofender ninguém.

- não quero mesmo. como passou a noite?

- um pouco febril, acho, com arrepios constantes apesar do calor óptimo da sala.

- vamos ver isso já, tenho um termómetro na caixa de prontos socorros

Ricardo Resende


- então?

-você está cheio de febre. tome o pequeno almoço que eu vou à cidade buscar um médico. não me espantava que tivesse arranjado uma pneumonia.

- que disparate.leve-me e eu trato-me.

- tem quem o trate?

- ali não, vim para reflexão, estou sozinho.

- então cale-se e coma p.p., eu não demoro.

tenho de trocar de roupa, olha como chove ainda! e eu ia de túnica e sandálias...


Margarida Delgado
- estou pronta. zack, toma conta do padre.

fui.

- quer uma bebida?

nem sei bem que tenho para lhe oferecer, eu bebo cacau... ah, tenho bourbon, trouxe da viagem, foi oferta.

- obrigado, aceito. acho que até por dentro arrefeci.

Rohr

- garantiram-me que era puro e artesanal, se isso é bom ou mau, diga-me depois, para eu reclamar.

agora, já mais confortáveis, posso perguntar-lhe quem é?

- que vergonha! nem me apresentei. chamo-me pedro vaz.

- pedro do santo e vaz do caminha?

- pedro do santo, sim, famílias católicas sabe como é...

- por acaso não sei, mas tanto faz, aprendo com os outros. já estou habituada. e que é que faz?

- sou padre.

de que é que ri?

- desculpe, venho do deserto, não estou habituada a controlar expressões. ri porque o visualizei mais como druída , perdendo a batalha com a natureza
.

do que como padre católico representando o todo poderoso. com vestes femininas e sinais que quase ninguém entende e são para isso mesmo.

- não é crente ou não gosta de padres?

- padre é lá coisa de que seja preciso gostar? vieram para ficar e pronto. são uma realidade como outra qualquer.

- tem mágoa na voz...

- eu tenho é sono. também fui apanhada na praia e assustei-me quando o vi na água, pensei que estava a ter visões, das más.

- irónica e fugidia já vi que é.

- hoje, padre pedro, não vai ter tempo para ver mais nada que a cama está à espera e o gato também. só tenho um quarto mas a sala está quente e a lareira acesa tome esta manta, é pura lã. se tiver fome o frigorífico foi recheado ontem à noite.

descanse bem.

- salvou-me a vida, sabe?

- salvei-lhe o quê? você morre por pouco...

anda zack!


- boa noite. durma em paz.

Gabor


tinha de ser padre! e se eu lhe tivesse aberto a porta como estava, nua, diz-me espelho meu, teria fugido?

2/27/2006

será que o estereo ainda funciona?

passar sem música é quase como não ter pão, salvo o exagero...

óptimo! este meu velho amigo ainda não falhou. que é que vou ouvir para afastar as ideias da visão na praia? deixa-me ver... Brahams, é isso. e agora vou para perto da fogueira com o meu gato.

geliosoft

zack, malandreco já me roubaste o lugar preferido. tem um lado bom, deixas-me o colo livre para me sentar descansada a ler um livro novo. estamos em férias, zack! esperemos que por pouco tempo mas, em férias.

que é isto? bateram à porta ou foi a ventania que se levantou e está mais forte. não gosto quando o vento sobe de intensidade.

espera... é mesmo a porta. quem poderá ser neste ermo? lá terei eu de me vestir... droga!

- já vou! só um momento.


paulo cesar

- sim?

- deixe-me entrar, por favor! quase me afoguei e estou gelado...não há outra casa perto.

- e a sua?

- é junto à cidade mas o carro não pegava de manhã, vim a pé, hábitos de meio ermita, fui apanhado por esta tempestade inesperada.

(eu vou arrepender-me disto, mas o zack sabe atirar-se-lhe à cara se ele se atrever, ou eu espero que sim.)

- entre. tenho a lareira acesa. num intante está seco.

- obrigado.


José Borges

(como ele é atraente! ou serei eu que ando há tempo demais longe do ocidente? que ele não me veja olhá-lo assim.)

-zack, temos visitas. um homem que veio trazido pelo vento.

nem olhes para mim, zack.

devo vir com cara de quem viu fantasma e será que não vi?

a trovoada surgiu de repente, são normais em março, mas tão súbita esta que até a mim espantou. e acredita, estou habituada a vê-las, até gosto. gosto de tudo o que é intenso, como de ti.


Mary Lang


o escuro reflexo no mar é que a anunciou. nada mais. nem vento nem trovão, escuro só. quando ergui os olhos vi o céu e apressei-me a sair da água.

já devias ter aprendido a ir buscar-me a toalha, zack, estou encharcada. só esse teu ar indiferente para me fazer rir agora...

mas quem era aquele louco ou louca que ficou na água? por aqui não vive ninguém. mas efeito luminoso de um raio, não foi.


McDonald

sabes que já atravessámos meio mundo sózinhos, sem medos patetas, no entanto quando a chuva parou, eu comecei a sentir o mundo ao contrário.


Mary Lang


estranha e única sensação. cobarde, nem olhei para trás e subi a duna a correr.

mas a tempestade não passou. olha como as gaivotas se agitam no ar.


Alex. H. Hamilton

vou acender a lareira. estou gelada.

mas quem ficou na praia com um tempo assim?

bom dia!

fizeste bem em acordar-me. preciso comer qualquer coisa e apanhar ar. pelo teu aspecto calmo, já bebeste o leite que deixei na taça.

Atthewidow skinbase.

somos dois bons parceiros, zack. companheios de longas viagens, que nunca discutem ou amuam. tu às vezes foges se te zangas mas, o apetite devolve-te num instante a amizade.

se quiseres fica aí. eu vou tomar o cacau da manhã. trouxe uma saca, puro. sei que dá mais trabalho mas, desde que aprendi, dá-me um tremendo gosto fazer eu. confessemos, sem máquina não sei se teria coragem, ainda estou cansada. foram muitos quilómetros.

Espoo

bela a manhã.

hoje não faço mais que apanhar sol e caminhar à toa. amanhã vou à cidade procurar trabalho ou não teremos como voltar à estrada. também precisamos comida, uns livros e alguma roupa, a minha está no fio.

raios, porque é que não podemos andar nús?

porque têm as religiões medo à nudez? não vou filofofar à beira mar numa manhã radiosa.

Jerry Avenaim


por isso mantenho esta casa solitária. eu aqui posso ir nua onde quiser. vou tomar banho. zack, aposto que tu ficas.

2/26/2006

olha zack, estamos a chegar à última etapa

tu conheces-me, já não sei dormir numa cidade. dói-me tudo. a cabeça. os ouvidos. a cidade tem ruídos a mais, mesmo na noite.

dogmouth.net

isso, salta do jeep, sente o ar. na primavera os pinheiros em flor lavam os pulmões do pó de qualquer estrada. foram eles e o rio que me fizeram ceder, com mais alegria, à tua vontade de parar.


Kent Holloway


a casa... como tem um ar abandonado! mas eu sei que, por dentro, está intacta. pago para que a mantenham e confio na amiga que vigia e orienta , ainda que a não veja há anos já.

há tanta história ligada a esta casa. se tivéssemos intenção de ficar, mandaria pintá-la de branco, branco puro.

carlos barros

por vezes é bom chegar a uma casa com cheiro conhecido.

já está água na chaleira a aquecer. e, zack, para de tentar caçar. trouxe-te ração de luxo da cidade, para variar.

learn-photography.co.uk


esta noite vamos dormir dentro de um tronco de árvore.

estou cansada e feliz.

2/25/2006

chego do lado do vento.

sebastião salgado


venho com os olhos cansados de tanto pó, tanta cor e tanta, mas tanta fome.

Andy Merz

eu sei, ninguém me chamou. mas tomei eu por destino não ter terra, ter o mundo. não ter onde regressar. vou e paro aonde posso, apenas para descansar.

sou nómada, nasci assim e sem sequer poder dizer a que tribo pertenci , num tal remoto passado.

by Pat Bell

desta vez foi o meu gato que se eriçou de alegria ao passar nessa cidade onde o rio é mais azul.

faço-lhe sempre a vontade. como não seria assim se somos dois vagabundos matando a sede com mundos?

Cepolina

vou parar, beber um chá. a seguir dormir, numa cama que iremos escolher macia.

depois? depois se verá. - amanhã é outro dia.


(continua)

2/24/2006

mas quem é aquela que saltou para o palco?

Gabor



- não é do grupo...

- ainda não vamos iniciar a peça mas pouco falta...

- tirem-na dali!

- tarde.


tenho raiva a mais na alma
se a não passar a palavras
ela rebenta-me a mim

tem força de mil petardos
é certeira como dardos
sempre que me sinto assim.

não me roubem a palavra
nunca o fizeram, aliás.
nem mesmo antes do tempo

em que a liberdade não era
mais que quimera de alguns
e hoje ainda escrevo e falo

que a palavra sempre lavra
se dita na hora certa.
a palavra é chão de paz.


- estranho, saíu do palco e desapareceu... onde terá ido?

- pior, deixou as roupas à porta.

- é louca.

- e não somos nós?

fim do intervalo.

art.org.


a seguir, próxima vida de papel.

2/23/2006

o cinzeiro azul


come-se na mesinha como se fosse ao balcão

fumam-se cigarros e apagam-se a meio

despeja-se o cinzeiro e mais tarde se lava


acabam-se os sonhos, dá-nos para pensar

tão dia após dia, tão noite após noite.


lá fora começa o espaço silêncio

que dá para contar tão pequenas coisas

rotineiros fumos que se sabe, sobem.


ah, os sonhos enrolados em cigarros

que queimei na vida dos últimos anos

merda, envelhecer é bonito para quem

não viveu, ou o contrário?


pronto, isto é já sono, vou lavar o cinzeiro

e tentar dormir.

dormir? quem estou eu a convencer?

Obrigada Amigo, pela arte e a coerência.




Só ouve o brado da terra
Quem dentro dela
Veio a nascer
Agora é que pinta o bago
Agora é qu'isto
vai aquecer

Cala-te ó clarim da morte
Que a tua sorte
Não hei-de eu querer
Mal haja a noite assassina
E quem domina
Sem nos vencer


Cobrem-se os campos de gelo
Já não se ouve
O galo cantor
Andam os lobos à solta
Pega no teu
Cajado, pastor


Homem de costas vergadas
De unhas cravadas
Na pele a arder
É minha a tua canseira
Mas há quem queira
Ver-te sofrer

Anda ver o Deus banqueiro
Que engana à hora e
que rouba ao mês
Há milhões no mundo inteiro
O galinheiro é de
dois ou três.

José Afonso



via-se bem

Swanage Railway


via-se bem, eu estava a mais na Terra

acabei por gostar, habituar-me?

seja lá pelo que for, pensei agradecer


deixei-lhe filhos meus, que mais podia?

que a preservem e guardem até onde

a bondade que tinham, permitir.


deles não sei. foram pelos caminhos

escolhidos, ou como os insectos

levados pelo vento até às flores.


a Terra está velhinha

filhos, tratem-lhe as dores!

2/22/2006

democracia, regressa a casa que não é tarde - ivano fossati





Dickson Junior


by Toto Rino
quando os vendilhões dos templos entram todos em cena... já não sei.

channeladvisor

Neil Folberg

ah, "os sepulcros caiados" estão intactos, Cristo!

2/21/2006

breves palavras de amor

by Alec Ee

não sou pássaro de gaiola - disse-lhe ela.

nem eu, meu amor, quero prender-te - disse ele.

riram os dois, acreditando em tudo o que o amor dizia entre eles, doce quente!

formam-se mais depressa as ilhas quando chove e morre a verdade no verde fosso de água que as circunda.

falta-me o vento , o ar - disse ela.

não me amas? - disse ele.

chegado o tempo das amoras, ele voltou a casa e não a viu.

só um papel branco sobre a mesa:

- adeus meu amor, eu vou com as aves. *


by Jerry Ting

consta que não a entendeu. e, no entanto, ela avisara desde início...


*Eug. Andrade

2/20/2006

Alone


From childhood's hour I have not been
As others were; I have not seen
As others saw; I could not bring
My passions from a common spring.
From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I loved, I loved alone.
Then- in my childhood, in the dawn
Of a most stormy life- was drawn
From every depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that round me rolled
In its autumn tint of gold,
From the lightning in the sky
As it passed me flying by,
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest of Heaven was blue)
Of a demon in my view.


EdgarAllan Poe

2/19/2006

nem tudo o que parece é




a vida parece morte

quando a dor é o mais forte

2/14/2006

Stig Marlo Weston


fragmentada, dividida
onde o inteiro de mim
em que eu acoitava a vida?

foram-se os anos passando
foi-se somando loucura
áquela graça que tinha
(ou não tinha?) vez em quando.

agora louca varrida
já não me importa o que pensem
nem que digam os demais.

grito por ti, meu amor.
tanto amo ou tanto amei!?
conjugações irreais.

um amor assim não morre.
faz inveja raiva até,
para matá-lo tudo corre.

ah, mas inda estou de pé!

oiçam a minha loucura
dizer-vos que este amor é
aquele que se procura.

vi o mar, mergulhei fundo
arrastei algas e conchas
mas de um gole, bebi o Mundo.

Mr. William Folsom, NOAA, NMFS

alguém me enviou

este poema para vos oferecer

annak

Touched by An Angel


We, unaccustomed to courage
exiles from delight
live coiled in shells of loneliness
until love leaves its high holy temple
and comes into our sight
to liberate us into life.

Love arrives
and in its train come ecstasies
old memories of pleasure
ancient histories of pain.

Yet if we are bold,
love strikes away the chains of fear
from our souls.
We are weaned from our timidity
In the flush of love's light
we dare be brave
And suddenly we see
that love costs all we are
and will ever be.
Yet it is only love
which sets us free.



by Maya Angelou

(desculpem-me mas nunca traduzo poesia.)

a preto e branco

a preto e branco ou quase

vejo eu agora a vida

ou queria ver.

mas há ainda gente que se ama

gente que passa abraçada nas ruas

ou se entrelaça

de janelas fechadas

para quem é de fora


at lacrymosa.tuxfamily


desse entrelaçar de amor

que só a dois se vive.

sim, tanta gente ainda ama

que sorriu

pego no pincel da natureza

e dou

um toque de cor a este meu dia

que seria igual a tantos outros

não fosse a maravilha dos amantes

que se abrem em flor.


Andy Jones

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BOM DIA!

2/13/2006

sem poesia.


o centro do mundo não sou eu

nem a lucky que me lambe a mão
.
é o trabalho que retomo amanhã

e me garante minimamente, o pão.

uma romã como sangue no gelo

artisjoy.com


um sorriso para ti.

M.

escolhas

as minhas maiores alegrias fizeram de mim a árvore amputada que hoje sou.



vá lá uma mulher adivinhar...

o percurso dos melros

chego a casa, atiro com a mala. não encontro o isqueiro. faço uma festa à cadela.

- vou ver os melros e já volto. volto já.

conhece- esses sons e fica calma. anoitece lá fora.


quem me conhece sabe



que amo melros



quem me ama ou amou



sabe porquê


sei um ninho. eles sabem que eu sei e não se importam.


amar e conhecer.

Isto Não É Um Diário.

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